Na minha modesta opinião há apenas dois tipos de VIPs, os R VIPs (com R de REAL como se diz em Inglês) e os O VIPS (com O de ORDINARY também como se diz em Inglês e que trocando em miúdos dá mais ou menos VIPs de trazer por casa)
R VIPs são por exemplo o Obama, o Ronaldo (prontos está bem o Messi também) a Angelina Jolie, o Papa, o Nelson Mandela, enfim, pessoas que pelo seu carisma, atitude, desempenho, personalidade, status, massa arrastam multidões, sendo normalmente notícia de abertura de telejornais mundialmente e facilmente reconhecidos tanto numa aldeia remota do Cambodja como numa qualquer avenida de uma qualquer cidade do planeta. Em Angola e pelas minhas contas, teremos em função das coordenadas de destino, eventualmente 2 pessoas no máximo que se enquadram nesta categoria. O resto são mesmo O VIPs.
O VIPs somos portanto quase todos nós, uns com mais frequência que os outros isso também em função da massa disponível para comprar o acesso e dos amigos estrategicamente colocados que nos possam catapultar para o estrelato.
As diferenças entre estas categorias são imensas. Senão vejamos;
o R VIP faz das tripas coração para não ser constantemente assediado por Jornalistas, cameras, Televisões… esconde-se, vive por detrás de muros, tem gente que o protege, que dissimula a sua passagem, que paga a meio mundo para se esquecerem que o fulano R VIP existe.
Já o O VIP faz exactamente o contrário, faz tudo para aparecer esforça-se por arranjar uma rede de amigos nos jornais, nas revistas, TVs etc etc e tal a quem fornece informações sobre a sua vida privada, o que está a pensar fazer, dizer e até sonhar. Ao contrário dos R dia em que não seja mencionado num qualquer meio ou circuito não é dia. Com o advento do FB há até uma história de uma jovem estrelita cantante que durante o período menstrual publica nos redes sociais de 3 em 3 horas instagramas do penso higiénico para que os fãs possam e em primeira mão seguir o desenrolar do acontecimento.
O R VIP escolhe para passar férias, locais paradisíacos, remotos de difícil acesso para o comum dos mortais. Faz-se acompanhar da família, de um ou dois amigos íntimos e do respectivo staff que cuida da sua existência durante este período. As fotos são privadas e só por mero acaso e enorme descuido é que vazam para a comunicação social.
O O VIP faz precisamente o contrário, escolhe passar férias e portanto fotografar-se grandes cidades como, Paris, Milão, N.Y, normalmente em locais públicos que se suspeita serem também frequentados pelos R VIPs (acedem a estes locais pagando aos porteiros uma generosas gorjas) em lojas de roupa muito cara, no lobby de hoteis caros, aluga limousine para dar umas voltas, faz questão de fotografar os pratos e o champanhe Cristal que vai emborcando (sobretudo se tiverem trufas e caviar, mesmo que depois em privado detestem a coisa) e na primeira oportunidade publicam as tais fotos nas redes sociais, geralmente com a elucidativa legenda “eu, em tal sitio… oh my god, é tão bom”… ao que os seguidores ferrenhos respondem… ohhhhhh…. Damn… que inveja (saudável claro, até porque sabes que eu amo esse sitio e sempre que aí vou não posso faltar)...
O R VIP comemora o aniversário, entre poucos amigos, os muito íntimos, numa mansão que é sua e faz questão que a festa seja o mais privada e discreta possível.
O O VIP, aluga um pavilhão, publicita a data nas redes sociais, faz um convite publico da festa, disponibiliza-se para receber prendas, no convite que publica no FB impõe dress code e gaba-se durante a festa nas mesmas redes sociais que a festa dele está a ser melhor do ano.
Ah… nunca se esquece de convidar as TVs e rádios para a festa, não vá alguém ficar sem saber que ele afinal faz anos…
;)
Todos os domingos, como de há muitos anos a esta parte acontece, vou à missa, sempre a das dez e aproveito para encontrar amizades de longa data e também para pôr a conversa em dia com o pessoal do xinquilho. Este ultimo domingo depois de purificar a alma e também os olhos na missa das dez (há por lá cada camião cisterna que até um desgraçado se engana no terço só de as seguir com os olhos), já à saída do templo dou de caras com a minha querida amiga Bebinha da Costa, amiga de longa data que por sinal frequenta a mesma igreja que eu. Pela palidez do rosto dela e pela forma como contorcia a Pochette YSL percebi logo que a a coisa não estava nada bem. Depositados os ósculos da praxe na bochecha de pele de seda muito cuidada e a exalar fragrâncias misteriosas, e depois do bom dia Bebita da Costa minha querida que linda que estás hoje veio o desabafo com voz trémula.
Então o José já viu isto? (apesar de termos andado na mesma creche, termos brincado aos doutores e aos pais e ás mães a Bebinha da Costa desde a maioridade que me trata por você, tudo se calhar para manter distâncias), continua ela com ar de enfado que me começou a preocupar, Eu, a Bebinha, uma distinta Senhora que me dou ao trabalho de gastar somas avultadíssimas com a minha imagem, que contratei um franciú, o Antoine De La Vogue como private advisor.
O José sabe quem é o Antoine não sabe José? Questionava a Bebinha com a certeza que sim, que eu só podia ser íntimo do tal mariconço do Antoine que para além da fazer o guarda roupa da B Onça e da Mandonna para além de outras pop stars e gente importante do JET Set, Oit e Nov, um fulano que me leva coiro e cabelo para que eu me apresente em publico com um look único, moderno do mais sofisticado que pode haver, que só me propõe as melhores marcas e obras de arte dos grandes criadores, eu Bebinha da Costa, neta de, filha de e esposa de, tenho que aos domingos comungar no meio da ralé como uma qualquer, receber a minha hóstia sagrada no meio de zungueiras e roboteiros, respirar aquele ar se calhar carregado de… como é que se diz José? Como se chamam aquelas coisas que não se vêm sem lupa e que fazem alergias? Ai ajude-me José… vá lá, sei que você sabe… pois, disse eu serão bactérias? Isso, isso mesmo bactérias… e por aí fora continuava a Bebinha da Costa possessa, enquanto eu a tentava acalmar… ainda pensei em dizer-lhe que a Igreja era a casa de Deus e que para Deus éramos todos iguais, zungueiros ou ministros, mas desisti não fosse aumentar a fúria dela
Então veja bem José, continuava ela imparável, as discotecas, as tascas de bairro, todos os eventos na cidade, todos os espaços da cidade têm uma área VIP, alguns até têm VIP, VIP +, VIP ++, Vipérrimo e por aí adiante, como é possível que a minha igreja, não se tenha modernizado e não tenha uma área VIP para pessoas como NÓS (salvo seja) podermos receber as graças do Senhor num ambiente à altura da nossa condição?
Chegados ao Jaguar onde o Jarbes, o motorista Zairense que só fala Francês a aguardava , depois de instalada no couro traseiro e com um chill out para compor o ambiente ainda disparou…
Sabe José, também só estou à espera que os fulanos lá no Vaticano, escolham Sua Santidade para lá ir exigir uma área VIP na nossa igreja, ou não me chame eu Bebinha da Costa, neta de, filha de e esposa de…
Bom se a Bebinha conseguir que o novo Papa a oiça e a leve a sério, sendo eu amigo da própria, já me imagino na missa das dez, enfiado num aquário com ar condicionado, com barman e tudo, a receber a minha hóstia trazida por acólito todo ele vestidinho a rigor e com sotaque afrancesado…
Ai isso é que vai ser…
JSP
Neste mês que hoje começa e que me dizem ser o da Mulher, quero agradecer a todas as mulheres que comigo se casaram, 12 no total e muito especialmente ás 11 que por terem pedido o divórcio me deixaram. Para aquela que ainda hoje e todos os dias me consegue aturar aqui fica o meu enorme apreço e especial obrigado por conseguir fazer aquilo que nenhumas das outras 11 se atreveu.
Por falar das outras 11, aqui fica também o meu especial agradecimento por terem tido o bom senso de fazer as malas delas umas vezes e as minhas umas tantas outras vezes também e terem dado à soleta. A este grupo de almas devo especial agradecimentos à Cleodana, a sexta dessa lista de onze que me pôs os patins ainda nem um mês de casado tinha passado, ou seja três dias depois do regresso de uma lua que tinha tudo para ser de mel mas que, sei lá eu bem, foi muito mais de fel.
Conheci a Cleodana numa reunião da Tupperware em casa da Micasdalva Vasconcelos & Prietto De Armada e Silva, uma prima minha, gente fina de Cascais. À força de tanto abrir e fechar caixas e caixinhas, umas redondas outras assim mais para o quadrado o amor surgiu como por encanto. Duas semanas depois disto deu-se o enlace, sem juras, sem promessas. A coisa nem começou mal até porque a Cleodana era e acho que ainda é uma pessoa tolerante e deixava-me à solta para que eu me pudesse adaptar à minha nova condição.
Ora a relação como se diz agora, começou mesmo a esturricar ainda na tal de lua. A Cleodana simpática, compreensiva e amorosa das reuniões da Tupperware que eu conheci mudou do dia para a noite logo que se apanhou de anilha no dedo. Aquilo era ordem atrás de ordem, a mulher era fanática pela arrumação e deixar a meia ou boxer atirado pelo quarto de hotel era motivo suficiente para me enviar mensagens com os olhos capazes de derreter gelo a kilómetros de distância. Resultado, andava eu direito como um fuso mas num estado de tensão permanente.
Regressados ao doce lar a situação não mudou bem pelo contrário piorou. Futebol? que é isso? nesta casa (a casa era mesmo dela) não se perde tempo com essas futilidades e de seguida passava a tratar-me por você por dá cá aquela palha. Na ânsia de querer agradar e também para poder ver uma final qualquer entre o Real e sei lá quem, aproveitei uma saída dela com as amigas para mais reunião da tupperware e lavei a casa, os biblots, o pechichet, as cortinas, as sanefas, as fotografias da avó, a santa que ela venerava, tudo lavadinho à mangueira. Do tecto ao chão molhei tudo o que havia para molhar.
Satisfeito e orgulhoso com a obra feita, sempre esperei por um enorme abraço, um obrigado e sei lá a tão querida autorização para ver o jogo.
Qual quê... entrou em bicos de pés, olhou à volta e sem me dirigir uma palavra sequer, enfiou tudo o que me pertencia numa mala e abriu a porta da rua. Fui ver o jogo em casa da minha prima e nunca mais, mas mesmo nunca mais aceitei convites para assistir ás benditas reuniões da tupperware.
JSP
Não sei dançar, de todo, ponto final, parágrafo, travessão.
Há uns anos, nos tempos da minha juventude, na Europa, quando me perguntavam nas festas porque não dançava e eu respondia que tinha vindo com defeito de fabrico, dois pés esquerdos e por aí fora, aquelas desculpas meio humorísticas que usamos para disfarçar a coisa, as pessoas achavam estranho e diziam-me que eu nem parecia Africano, uma vez que os Africanos na opinião deles dançam até mesmo sem música (tenho visto mocinhas a abanarem-se tão efusivamente nos passeios de Luanda que ás vezes até gostava de lhes conhecer a música interior que as tanto faz vibrar).
Mas sou mesmo Africano, pelo menos nasci no Continente mas isto também é conversa para outra lavra e o facto de não saber nem conseguir aprender a dançar decentemente com alguém, durante anos mexeu comigo ao ponto de me inscrever numa escola de danças de salão de onde acabei por ser expulso por dar cabo dos pés da pobre professora, a D. Henriqueta, que sempre que tentava comigo dançar Tcha-Tcha-Tcha, certo e sabido que falhava as aulas do resto da semana por ficar com os pés feitos em verdadeiros trambolhos. De tanto mexer dei comigo a pensar em arranjar soluções para esta minha falta de jeito para os passos, para a dança, até porque tudo na vida exige esforço e trabalho.
Comecei por arranjar uns tangos do Astor Piazola de quem sou admirador convicto, uma vassoura e no sossego lá de casa, depois de ver centenas de videos de bailarinos de tango, comecei a dar umas passadas. A coisa até que nem saía assim tão mal e mais confiante nas minhas capacidades de riscador de pistas, decidido, enfrentei um baile dos bombeiros ali para os lados de Odivelas onde me disseram que o conjunto Manitas mais Cinco, abrilhantava todas as sextas, uma soirée dançante muito concorrida por sopeiras e meninas mais ou menos encalhadas. Posto lá as coisas mudaram de figura ao ponto de me ter deixado marcas que ainda hoje transporto comigo (duas cicatrizes e um pivot, tal foi a violência dos acontecimentos).
Aberta a pista, quis que me tocasse na rifa a menina Josélia, uma Africana de grande porte, uns bons 20 a 30cms de altura e muitos kilos a mais que eu, que gentilmente acedeu ao meu convite, "a menina dança", e lá fomos nós por ali a deslizar pista fora. Os primeiros passos saíram quase perfeitos, não fosse o problema técnico da altura dela que me obrigava a ter as narinas práticamente enfiadas no portentoso e cómodo decote de onde saía um volumoso peito que a cada passada arfava e me dificultava a respiração. A partir de um certo momento a menina Josélia, fruto do arcaboiço avantajado e se calhar por também ser bem Africana passou ela mesmo, entusiasmada com a música a levar-me em voltas e mais voltas até quase perder o tino.
O tino e um dente perdi-o quando o Miko, um pedreiro cabo-verdiano gigantesco que andava de olho na Josélia se dispôs a pôr fim ao bailarico e armar zaragata por não ter achado piada nenhuma ás minhas dificuldades técnicas. Lembro-me de ter dado várias voltas ao recinto em ombros e depois de ter feito um voo picado escada abaixo aterrando de seguida mesmo à entrada do salão de festas com as beiças em péssimo estado, ter jurado a mim mesmo que se para dançar era necessário tanto sacrifício e tanta dor, mais valia ficar só mesmo com os meus dois pés esquerdos, aqueles que os meus pais me deram quando me pariram.
É que não se pode ter tudo...
Lutei durante horas para adormecer. Usei todos os truques que conheço e as horas iam passando sem que conseguisse pregar olho. Contei carneiros a pular a cerca, pus a cerca com vinte centímetros de altura para que os pobres pudessem saltar melhor e assim contar mais rápido, cheguei aos quatro mil e tal e nada, dormir que é bom... NADA.
Por via do insucesso com a carneirada, optei portanto por outra técnica. Propus-me identificar e contar Ministros e Secretários de Estado do actual Governo, a ver e tendo o número considerável de pastas, que ao fim da segunda secretaria de Estado já eu estivesse na DreamLand.
Qual quê... népias. Se com os carneiros havia uma réstia de esperança de por via da contagem e dos graciosas saltos dos bichinhos conseguir fechar a pestana, com o exercício dos Ministros e Secretários de Estado a coisa piorou ao ponto de ter tido um ataque de pânico que só não derivou para uma depressão nocturna grave, porque previdentemente, tenho na mesinha de cabeceira para estas situações o antídoto ideal que nunca falha.
Então não é que, durante o exercício de constituição mental do organograma governamental cheguei à insólita conclusão que não consigo sequer dois nomes de Ministros e dos respectivos Secretários de Estado. Assim então a coisa toma contornos assustadores. Não conheço nem sei o nome de nenhum Ministro... É GRAVE.
Tanto mais que se calhar até me devo ter cruzado com alguns deles, sei lá nessas minhas viagens de candongueiro entre o Rocha e a Mutamba e por desconhecimento nem sequer lhes dei os bons dias...
Agora fiquei preocupado.
Lá no prédio há um casal simpático de muita idade que eu gosto de encontrar sempre que posso. Ela, a D. Henriqueta, Ele o Sr. Alfonsinho... Qualquer um deles já passou largamente dos 80 e por isso sentem-se abençoados...
Há dias D.Henriqueta chamou-me à parte e em jeito de segredo perguntou-me se eu ainda era fotógrafo. Respondi que sim, que era verdade, que fazia uns bonecos. De seguida perguntou-me se tb fazia trabalhos de fotografia sujos... sujos? como assim D. Henriqueta? perguntei eu sem conseguir perceber de todo o alcance da pergunta dela. D. Henriqueta meio decepcionada disse-me que uma prima afastada do Cazenga lhe tinha dito que havia uns fotógrafos, os "babarrazos, ou sei lá o quê" que a troco de dinheiro se dispunham a fazer fotografias de pessoas sem que elas soubessem, se apercebessem disso... "fotografias assim de gente a fazer coisas feias", percebe ?
Percebi sim, disse-lhe que não era "babarrazo" nem paparazi e que tb não me dava nem conhecia nenhum. Ela lá me foi dizendo que era uma pena que precisava desesperadamente de um, que andava muito desconfiada com o estranho comportamento do Alfonsinho, que últimamente, veja bem, desalvora porta fora pela manhã, diz-me que vai dar milho aos pombos e só me aparece em casa ao fim do dia, nem vem pro almoço... e com as galdérias que por aí andam à solta, nem sei no que é que ele anda pr'aí a tramar... até porque o Alfonsinho apesar dos anos todos não é flor que se cheire e desde que passou a assistir comigo à telenovela das sete, já nem quer ir para a cama ás nove como era hábito, para já não falar das conversas muito esquisitas sobre roupa interior que puxa logo que acabo rezar o terço e me preparo para ir dormir... Sorri, aconselhei paciencia, disse que talvez fosse só uma fase, que a coisa se calhar não era bem aquilo que ela imaginava e que se precisasse de desabafar podia contar comigo. Entretanto a coisa ficou por ali e não voltei a cruzar-me com nenhum dos dois…
Ora ontem, por acaso fui à padaria e resolvi atravessar o pátio da igreja para encurtar caminho. Neste pátio há bastantes árvores que dão uma sombra apelativa. Sob uma destas árvores e num banco consegui reconhecer de longe o Sr. Alfonsinho, que, sozinho meio cabisbaixo permanecia imóvel. Aproximei-me devagar e percebi que o O Sr. Alfonsinho ferrava uma soneca das boas. No rosto sereno havia um sorriso de felicidade que indiciava um sonho doce. Sem o acordar lá fui comprar o pão.
Hoje se vir a D. Henriqueta vou aconselhá-la a deixar o Sr. Alfonsinho ver todas as novelas que bem lhe apetecer, porque de uma coisa creio estar quase certo, aquele sorriso durante o sono dele, só pode querer dizer que, o Alfonsinho ou sonhava com a actriz principal da novela das sete, ou então, vieram-lhe ao sonho os tempos em que ele falava com a Henriqueta abertamente sobre roupa interior…
Se há uma coisa que me faz cócegas e me tira toda a vontade de sair à noite é aquela pseudo-triagem que se faz à entrada dos estabelecimentos da nossa praça. Não só das discotecas mas tb dos ditos restaurantes...
Ora dizem-me que Luanda tem cerca de 6 a 8 milhões de alminhas (logo é uma cidade grandinha) que mereciam, no mínimo, ter mais oferta, mais opções onde ir dar um passinho de dança, ter uma conversa ao som de uma boa musiquinha ou mesmo jantar. Chegando os dedos de uma mão para contar os tais locais de diversão disponíveis é inevitável que o PPL mais folião desembarque em massa à porta dos ditos, dos mesmos sitios portanto. Uns porque não têm mais para fazer, outros porque gostam de secar horas à porta de um determinado local que lhes disseram ser muito "in" e outros ainda que vão onde os amigos os levam.
Entrar nestes recintos pode ser por vezes uma luta e tarefa que só os mais estóicos são capazes de suportar. Lá dentro a coisa tb não deixa de ser caricata. Há a zona da plebe e as tão engraçadas e dispendiosas zonas VIP. É nestes aquários que nadam os mais afortunados, os "posso" da banda.
Mas não é para fazer considerações sobre a noite de Luanda que me dispus a rabiscar estas linhas. Apesar de recusar muitas xs convites para sair, um houve, que por muitas voltas dadas, fui forçado a aceitar. O da minha querida amiga Lelinha Botoxada que durante quase um mês me azucrinou a mioleira com sms e telefonemas até que eu lhe dissesse que sim. Tinha ela acabado de chegar do “Brasiu” onde tinha feito um Valente upgrade e ainda não tinha ido à noite para se fazer notar e quem sabe mesmo, cobiçar, até porque a nossa noite é tb famosa pelo número imenso dos “vou-te dar” e depois não dão coisa nenhuma e de muita gente com vistas bem grossas…
No dia aprazado e à hora combinada estacionei o bote em frente ao prédio dela e dispus-me a esperar que a Lelinha desse à costa. Desde praticamente as 5 da tarde desse dia que o meu telefone estava a ser inundado com mensagens do tipo estou no cabeleireiro... faço as unhas de que cor? uso saia ou visto umas calças? jantamos onde? não é melhor reservar mesa? senti a minha amiga empolgadíssima e isso não era prenuncio de uma noite tranquila.
15 minutos depois da hora marcada eis que aparece a Lelinha Botoxada no horizonte... vestida como se fosse para uma cerimónia de entrega dos óscares, cabelos ao vento, mas... e aí fiquei com dúvidas. Nos pés umas havaianas que contrastavam com o resto do conjunto, numa mão uma daquelas malinhas que não servem para nada porque não cabe lá nada e na outra um saco desportivo da Adidas...
Por discrição não lhe perguntei o porquê do saco da Adidas e secretamente até fiquei muito feliz porque com as havaianas ficaríamos práticamente ao mesmo nível e assim não teria que passar o tempo todo em bico de pés a berrar-lhe ao ouvido quando tivesse que falar com ela. A minha alegria durou pouco, melhor, acabou quando depois de estacionado o bote junto ao restaurante onde supostamente deveríamos jantar, ela me pede 2 minutos para proceder à troca de calçado. Do saco Adidas saíram uma coisas que até pareciam sapatos mas afinal eram andas… altíssimas que só por milagre ou puro desprezo pelas leis da gravidade alguém no seu perfeito juízo ousaria pisar.
Os vinte e tantos cms de paltaforma estavam agora nos pés da Lelinha Botoxada e agora tb começava a verdadeira odisseia de a fazer chegar à mesa sem uns valentes malhos à mistura. Ela gemia enquanto tentava equilibrar-se e chegar até à mesa foi um verdadeiro festival acrobático que a certa altura roçou o ridículo e que demorou uns bons 20 minutos para fazermos os pouco mais de 50 metros que nos separavam do jantar…
Escusado será dizer que a Lelinha do alto dos seus agora quase 2 metros de altura, no seu passo trôpego, inseguro e sem dobrar o joelho foi alvo de todas as atenções do ppl que estava no recinto, quer por parte dos marmanjões armados em galadores de meia tijela mas tb e sobretudo por parte do outro mulherio que como ela, tb estava sobre andas… e rezava aos céus para não terem que andar nem mais um metro.
Entretanto, enchi-me de coragem e disparei… Lelinha Botoxada, diz-me lá então porque andas tu em cima desses andaimes se sabes que não consegues equilibrar-te? Olhou para mim a sorrir e perguntou-me se eu sabia quanto custavam os andaimes que tinha calçado e de seguida rematou… se são caros, se estão na moda e todas as minhas amigas usam então eu também quero… Jantei a triplicar já a adivinhar a proeza que seria levá-la dali até à discoteca onde parece a Lelinha Botoxada fazia questão de passar a noite encostada ao balcão para não ter que aterrar de emergencia num momento de distração…
Ontem foi dia de grandes decisões lá em casa...
Não prevendo grande coisa do jogo do Glorioso Benfas e muito menos ainda da jogatana dos Guerreiros entrançados, decidi pôr ordem no Cúbico para assim poder desfrutar (ou seja, apreciar melhor as frutas que se distribuem nestes eventos) com a maior das serenidades, desses dois momentos ímpares de televisão.
Como não me esqueci da chave de casa o que não sei bem porquê, já vem sendo um hábito, entrei de rompante, a chamada entrada de Leão e disparei alto e bom som... Alto lá minha gente, isto a partir de agora tem que ser diferente, não admito depois desta minha intervenção questionamentos sejam eles de espécie forem... A Anika olhou para mim surpresa, tb pudera, nunca me tinha dado nenhuma crise de autoritarismo deste tipo, o Francisco, esse marimbou-se no sermão e a Indira sorriu.
Encho o peito, olho de frente bem sério para todos, o silencio reina e começo a debitar a arenga que passei a tarde toda a ensaiar... A partir de hoje, deste preciso momento, AGORA (aqui abro muito os olhos para intimidar), a última palavra, a palavra definitiva nesta casa... (pausa para criar suspense) é minha... só minha, ouviram bem????
Silêncio ainda maior, a Anika só olha, o Francisco continua a montar o Puzzle do Thor e a Indira continua a sorrir... e a minha palavra ou melhor as minhas últimas e definitivas palavras são, continuo eu com uma firmeza extraordinária... SIM QUERIDA.
A Anika aproveitou para suspirar muito fundo e disse-me que podia começar por dar um jeito à loiça do lanche dos miúdos sem esquecer de ir dando uma olhadela ao peixe que estava no forno para o jantar, enquanto ela ia tratar de uns assuntos com a irmã a quem ficou de ligar para combinarem já nem me lembro muito bem o quê, o Francisco sem levantar a cabeça, pediu-me para mudar de canal, porque o Disney Junior já não estava com nada, agora era hora da SIC K e a Indira instalou-se confortavelmente nos cadeirão a fazer horas para o jantar.
Eu, fazendo jus ao meu pronunciamento autoritário, disse-lhe como havia prometido 5 minutos antes... SIM QUERIDA,
rumei ao fogão, inspecionei o peixe e de avental apertado pus toda a loiça a brilhar.
Da noite Europeia de Futebol fiquei a saber por volta da meia noite, quando o Francisco já sonhava com aventuras contra moínhos de vento, que os Guerreiros foram batidos sem apelo nem agravo, e que o Benfas voltou a sonhar com a glória. Parece que afinal não perdi nada e isto sem deixar esturricar o peixe.
Sózinho, enquanto fumava o cigarrito da ordem, reflecti e concluí, que homem inteligente, não discute com mulher. Basta dizer-lhe de tempos a tempos um SIM QUERIDA.
Quando era mais miúdo (continuo a ser, calma lá) sonhei querer ser quando passasse a calçar de pés mais de 35 um ror de coisas, aliás como quase toda gente. De bombeiro, a ginecologista (isto foi mais lá para os tempos em que calçava ainda de pés 33 ou 34), artista cantor passando obviamente por futebolista, pelas razões que toda a gente também conhece e que até tinham a ver com a exigência maior de ter que haver muito pouca escola, muito exercício ao ar livre, muita gaja boa, tudo isso por se dar uns valentes bicos na bola, por se aparecer de tempos a tempos na TV (na altura a PB) ou naquelas revistas de cor indefinida que para além de fofocas domésticas também traziam em forma de apêndice as tão choradas e adoradas fotonovelas tão ao gosto do sopeirame.
A minha convicção e interesse pelo desporto rei mais reforçada saiu quando um dia ouvi da boca de um ilustre famoso praticante da modalidade a frase que ainda hoje me serve de referencia quando ás vezes dou comigo a duvidar das minhas capacidades de fotógrafo. Dizia o cavalheiro qualquer coisa como "penso, logo jogo à bola" ou ainda de forma muito mais exuberante e não menos retumbante "comigo ou semmigo, havemos de vencer o jogo de domingo", palavras que por me terem ficado gravadas na alma, ainda hoje vêm as lágrimas quando vejo a desgraçeira (de resultados e não só) que grassa nalguns clubes de futebol que por sinal nas épocas áureas se batiam de igual para igual feitos leões...
Ora por me interessar pelo fenómeno da bola tenho andado concentrado a ouvir as explicações de gente avisada na matéria que entre outras coisas, diz, que a tal desgraçeira que se vive em algumas instituições se deve acima de tudo, entre outras coisas à espiral de falta de confiança e desmotivação que grassa no grupo de trabalho, os jogadores portanto, uma vez que os moços habituaram-se, à força de perder tantos jogos seguidos a uma lógica perdededora que dificilmente se puderá inverter.
Um dos remédios, ainda na óptica da gente avisada da bola que manda bitaites a toda a hora, para tal maleita passa por substituir treinadores de meia em meia dúzia de jogos, mas nunca os jogadores (esta parte tenho alguma dificuldade em perceber, confesso), estes mesmos jogadores que ainda há dias eram apresentados aos sócios destas instituições como a solução para vencer, até se vislubravam futuros Messis e Ronaldos entre alguns deles, que de repente atacados de uma súbita inépcia, deixaram de render em campo e sem explicação aparente passaram a perder toda e qualquer jogatina, fosse ela a sério ou a feijões.
Não sendo adepto de nenhum clube da bola, nem tendo nehuma afeição especial por nenhuma côr ou emblema, mas ferveroso espectador destas coisas da bola sobretudo quando ela bem tratada (entenda-se bem jogada), parece-me que a solução prática da coisa seria pagar-lhes, a eles, aos artistas, em função do produzido em campo, como aliás se faz na VIDA. É que enquanto não produzirem, forem pagos na íntegra e ainda por cima tratados com paninhos quentes e outras paparoquices, não accredito que haja treinador que resiste nem espiral recessiva que se inverta. Por essas e por outras vou mas é dedicar-me à ginecologia.
Ah pois…
Todos os meus amigos GORDOS como eu, circulam por aí em grandes motas, algumas muito ruidosas, mas todas muito rápidas e vistosas.
De inicio pensei que a escolha deles tinha muito a ver com o brutal peso que as ditas potentes coisas velozes e barulhentas têm que transportar diariamente. Há amigos meus que pesam mais de 120kgs.
Depois pensei, que sendo eles pro anafadito, longe de mandarem aquele corpito, a maior parte das vezes construído mais à base dos tão badalados cocktails de bombas que de ferro e suor de do ginásio, por uma questão de complexo, optavam sim pela velocidade estonteante que essas coisas de duas rodas alcançam quase instantaneamente como forma de serem mais ouvidos que vistos. Da aturada reflexão que tenho vindo a fazer sobre o assunto, reconheço ter falhado redondamente nas minhas análises.
Todos os meus amigos gordos até nem acham que têm peso a mais, são vaidosos como perús. A escolha do material rolante potente, segundo os inquiridos tem mais a ver com as gajas do que propriamente com o peso. Um gajo numa Ducatti barulhenta toda xpto, capacete com viseira escura, blusão de couro do tipo James Bond, saca o mulherio quase sem se esforçar o que não aconteceria se o mesmos amigos gordos andassem de rapidinha... é que, segundo me consta, o mulherio não resiste a um bom "ratter" e há por aí um mulherio danado por sentir emoções fortes.
Ontem para confirmar esta hipótese fui, bem na hora de ponta (que é como quem diz, aqui hora de ponta é todo o santo dia) dos sambila à mutamba de rápida e nada... nem sequer uma só tipa demonstrou vontade de experimentar velocípede. Muito pelo contrário, levei mirada e xeees para a semana toda. Os únicos encontros que tive no dito percurso, foi com esses senhores vestidinhos de azul, que ora me pediam os documentos ora me falavam de gasosa, até pareciam vendedores de refrigerantes ou que estavam com muita sede. Nenhum pediu boleia, nenhum fez menção de ir passear.
Ainda ontem também, dei-me ao trabalho ali para os lados da Lusíada, de fazer 2 cavalinhos e 3 acelaradelas brutas na Ducatti do meu primo Manel e era vê-las a correr rua acima... nem foi preciso pôr o tal capacete de viseira negra... Sem mexer um dedo assim num abrir e fechar de olhos arranjei 5 candidatas a dar um passeio rápido até à nova marginal... Ele há coisas...
Não sei se isto tambem vos acontece, mas se os imensos “é-meiles” que diáriamente me atafulham a caixa do correio a solicitarem os meus dados bancários para me transferirem muitos milhões que, dizem eles, eu sortudamente acabei de herdar de um recente defunto benemérito qualquer, daria, no mínimo para me tornar na capa da Fortune e ombrear taco a taco em matéria de bufunfa com um qualquer Bill Gates.
Pois é, acabo de ligar à minha ex, a Birmanesa (sei que há Pais que dão aos filhos nomes do caraças) a terminar tudo… e para que não restassem dúvidas também lhe enviei um e-mail, curto e directo a dizer ACABOU-SE. A principio ainda pensei que uma conversa olho no olho seria o ideal, mas desde que soube que há por aí pessoal a ser despedido dos empregos por telefone e por e-mail, achei que assim seria mais prático e até evitaria qualquer escandaleira que ela pudesse eventualmente querer fazer.
As coisas com a Birmaneza começaram lá no escritório, por alturas do Natal quando começamos a fazer horas extraordinárias para a aviar uma quantidade de cabazes que parecia não ter fim. A Birmaneza como era da minha secção, a dos avios, tinha como eu que papar as horas e piar fininho. Nos primeiros dias saíamos juntos aí por volta das 23 e a Birmaneza tinha um bacano montado numa motoreta que a esperava com ar de quem estava com prisão, de ventre, meio esverdeado, que ao meu cumprimento respondia com um grunhido.
Um belo dia, acabada a jorna, saíamos juntos uma vez mais, exaustos e eu vejo a Birmaneza apeada a olhar para um lado e para outro a ver se topava o bacano e disparo… Birmaneza vais para casa? Ela meia atarantada responde-me que sim, mas não e que talvez como tinha discutido nessa manhã com o bacano não tendo ele aparecido, se calhar o melhor mesmo era voltar a entrar e arranjar um cantito lá mesmo no escritório para passar a noite no meio dos cabazes e coisa e tal, e pois então… e claro, aquilo partiu-me o coração. Disse-lhe que nem pensar, se onde come um, comem dois (isto sem nenhuma alusão ao bacano, nesta altura do campeonato éramos só amigos e colegas) também onde dorme um, dormem dois… disse-lhe então que vivia sozinho num anexo ali para os lados do BO e que com jeito por esta noite a coisa arranjava-se, que ela podia dormir por lá hoje e que no dia seguinte, com as ideias arejadas, logo se via.
Entrou no carro, não sem antes dizer que não queria arranjar-me sarilhos e mais isto e aquilo, depois fizemos o trajecto em silencio, mas os olhos dela brilhavam. Estacionada a viatura saímos e aí começaram os problemas. A Birmaneza dados dois passos a caminho de casa desfalece e antes que se espalhasse ao comprido no chão lamacento do BO, tomo-a nos braços e evito-lhe a queda certa. Amparada em mim lá vamos andando, eu a tentar acalmá-la a dizer-lhe que tudo se resolveria ela a soluçar, quando de repente levanta a cabeça e ferra-me um beijo nos beiços que quase me deixou sem fôlego. A principio fiquei meio azuratado com a cena mas como até nem desgostei deixei a coisa correr e pensei para mim que a coisa depois passava-lhe.
Já em casa, enquanto eu feito Tótó arranjava o sofá para passar a noite, longe de dar uma de aproveitador, a Birmaneza foi para a casa de banho e eis que me aparece a cantarolar (era outra Birmaneza) vestido só com uma T-shirt “S” minha, que me abraça, me aperta e que me segreda ao ouvido que adora dançar… ainda tentei argumentar (aqui feito asno confesso) com os dois pés esquerdos com que nasci, com o barulho, com os vizinhos, mas qual quê, dois copos, candeeiro debaixo da mesa e um naperon a barrar a luz e pra frente é que é o caminho. Dançamos pouco mas fizemos outros tantos esforços que no dia seguinte parecia até que tínhamos ido à Guerra.
Escusado será dizer que a Birmaneza mudou-se para o anexo e assim começou a minha epopeia com ela até ao dia em que descobri que o que ela mais queria, apesar de tudo e mais que tudo, era ser Mãe, queria casar de branco e levar um ramo flor de laranjeira. A partir desse data passou a espalhar pela casa biberons, botinhas de crochet azuis e touquinhas rosas, bem como revistas para futuras Mamãs. Ainda argumentei ou tentei convencê-la, com aquela, da minha religião que só permitia o casório depois dos 60, de que os tempos não estavam para graças, que um filho é um projecto de vida, para esperarmos pela minha mais que certa promoção a chefe da secção dos avios e depois sim podíamos planear a coisa, mas foi tudo conversa em vão. Meteu-se-lhe na cabeça que tinha que andar com a mochila à frente e não havia nada que a fizesse mudar de ideias.
Digamos que até ia conseguindo a muito custo equilibrar as coisas. O pior mesmo foi quando tive que receber uma delegação familiar que incluía uns caenches do tipo ameaçador a exigir a marcação do pedido para dai a uma semana. A lista de bens que me deixaram era tão extensa que mesmo antes de acabar de a ler telefonei a dar break. Como é que um simples empregado da secção dos avios pode comprar 3 fatos completos, 8 gravatas de seda pura, 5 pares de sapatos de cores diferentes, caixas de whisky novo e velho, espumantes e champanhe uma vaca leiteira com menos de 3 anos, 12 cabritos, 12 leitões e pasme-se uma semana de férias para os Pais dela nas Maldivas, e ainda um apartamento para a família no Kilamba… azar é que a lista já tinha sido publicada e o meu nome népias… não constava.
Desisti portanto… no meu lugar quem não desistia?
Conversei com a Anita, jovem fotógrafa Suíça, que se encontra entre nós a trabalhar. Foi bom, muito bom também ser visto por outros olhos que não os meus...
Para chegar até nós a Anita passou pela África de Sul e por Moçambique, onde trabalhou num projecto pessoal muito interessante que consiste em retratar jovens talentos promissores nas mais diversas áreas da ARTES.
"Ontem "desabafei" aqui acerca de uma situação vivida num trabalho que recentemente realizamos na marginal de Luanda. Na seqüência desse desabafo, recebi de alguém com responsabilidades na gestão desta zona re-qualificada da cidade uma mensagem, que desde já agradeço e saúdo pela oportunidade mas tb por poder constatar que finalmente começa a haver uma postura muito diferente do habitual "quero", "posso" e "mando" da parte de quem tem por missão zelar e gerir estes espaços. Fico portanto contente por haver quem de forma civilizada e competente tenha a preocupação de esclarecer os menos informados como eu e dissipe dúvidas que possam eventualmente subsistir, refutando as críticas por mim feitas com argumentos sustentados e plausíveis. Bem haja e uma vez mais obrigado. Da minha parte só me resta pedir aqui desculpas aos visados por qualquer dano que tenha inadvertidamente causado. Deixo-vos portanto então o esclarecimento que aconselho todos, sobretudo quem como nós tem por vezes necessidade de utilizar este espaço para trabalhar." (JSP)
"Caro JSP.
...
Li o seu post aqui no FB, sobre uma atividade que realizaram na Baía e que foram interditados pela vigilância. Aproveito para pedir imensas desculpas por qualquer transtorno causado pela vigilância da Baía de Luanda, vou explicar o que se passa. A gestão dos espaços da Baía de Luanda, operações e manutenção tem decorrido da melhor maneira, temos ocorrências diárias, alguns acidentes, tentativas de suicídio, algumas quedas no talude marítimo, crianças perdidas, alguns acidentes resultante do mau uso dos brinquedos, roubo de plantas, algumas motorizadas a circular pelo passeio marítimo e outros casos mais insólitos. A nossa principal missão é da preservação dos espaços.
• Zonas verdes
• Quadras de Basquete
• Anfiteatros
• Parques Infantis
• Mobiliário Urbano (bancos e mesas)
• Papeleiras
• Passeio
• Calçada
É um espaço novo e todos querem usar para fazer de tudo um pouco, até aí não vemos qualquer problema. O problema está no “COMO e QUANDO” usar. Trabalhos como fotografia e filmagem não existe proibição nenhuma, é um espaço da cidade de Luanda como tantos outros, pode e deve ser fotografada e filmada sempre que for necessário. Existem alguns eventos que têm alguns níveis de risco que a gestão da Baía de Luanda precisa de ser comunicada para podermos auxiliar e com a nossa equipa técnica guiarmos de melhor forma para evitarmos pequenos acidentes que se não forem mitigados, os custos de reparação são mais elevados. Se qualquer empresa/agência/grupo decidir realizar um trabalho na Baía de Luanda, entrar com os carros até ao passeio marítimo, motas, trazerem geradores, com risco de derrame de combustível, pingar óleo, fazer furos na calçada para instalar andaimes etc. e nós assistirmos sem pôr um pouco de ordem nisso, em menos de 6 meses não sei como estarão os espaços que queremos sempre limpos, conservados para desporto e laser. O pedido de autorização existe exatamente para podermos guiar onde qualquer desses equipamentos pode ser instalado, quais são as implicações no caso de não conformidade com as regras de uso dos espaços, quem devemos imputar responsabilidades com algum dano causado e possivelmente a cobrança de uma taxa para eventos com fins lucrativos. Quando é que pode ser usado?
Também é muito importante dar a conhecer a gestão da Baía de Luanda porque existe uma série de pedidos para a realização de eventos e não queremos ter surpresas de ter confirmado o evento para um dia e no mesmo dia e hora termos os que aparecem de surpresa a ocupar os espaços que estão previamente acordados, não parece correto do lado da Baía de Luanda – Gestão de Eventos ter este tipo de desprogramação. O que aconteceu convosco foi simplesmente o facto da nossa vigilância ainda não estar devidamente treinada, são sempre informados na parada quando fazem a troca de turnos, mas ainda não sabem gerir estas situações, discernir o que é um evento com muito aparato ou o que é um trabalho de fotografia ou filmagem. São treinados diariamente, essa é a vigilância que temos, não estão ai para proibir, principalmente fotógrafos, porque eu sou um dos amantes da fotografia, não sou um membro ativo dos AF mas publico algumas coisas de vez em quando. Estou a ver com o Nelson Silvestre a possibilidade de organizarem o 3º mercado da fotografia, usando um dos muitos espaços que temos. Já tivemos situações semelhantes a vossa, mas com um telefonema eu resolvi no momento, o que eu quero é que me liguem cada vez menos para casos do género, fotografia e filmagem devem ser geridos conscientemente pelos vigilantes no local, eles têm apenas que orientar caso algum fotografo precise de alguma informação adicional. Já tivemos casos mais complicados. Matias Damásio, decidiu montar uma banda no passeio próximo do canteiro das flores, umas colunas e fazer um clip, sem comunicar a gestão da Baía de Luanda. Este fim de semana tínhamos um camião, e alguns carros em cima da praça, para uma atividade com cerca de 400 alunos da universidade católica, sem comunicar e sem autorização, a nossa insistência não está em proibir a realização seja lá do que for, mas temos o direito de ser comunicados para podermos orientar onde os carros podem ficar, onde os geradores podem e devem ser instalados, onde passam os cabos etc. Infelizmente estamos a ser mal interpretados, mas aos poucos essas dúvidas vão desaparecer e os factos vão falar mais alto.
Um abraço, e obrigado pela atenção."
Virá tecnologia de ponta, o que significa importação de material rolante, escadas móveis e serras leves de última geração. Boas comissões em perspectiva. E que se danem os velhos podadores...
A cena aconteceu à frente da minha casa. Um grupo podava as altas árvores de um largo há muitos anos fechado para obras. Abrindo parêntesis, o dito largo, a ser remodelado ou para jardim ou para lhe aplicarem os já habituais quiosques «destinados a fomentar o turismo» (?), os quais nunca funcionam por se situarem em zona residencial inflacionada de pontos de venda de cerveja, foi condenado a virar uma savana rodeada de chapas de zinco na vertical, com capim alto, onde tudo pode acontecer desde negócios escuros a alívio de necessidades de ordem fisiológico-drogo-sexual. Mas voltemos à poda das árvores ao lado da savana.
Alguns ramos sofreram cortes na parte terminal. Os seis trabalhadores reuniram os ramos cortados numa metade da rua. O camião que os levara, destinado a transportar os restos, estacionou na outra metade, fechando portanto a rua. Lógico, a operação era perigosa para o trânsito. Só um estava em cima da árvore, com a famosa serra mecânica. Amarraram uma corda a um resto dos ramos a cortar, mas na sua base, onde se ligava ao tronco principal.
Era um coto de uns dois metros de comprimento e muitos quilos de peso. O trabalhador pôs a serra a funcionar, os outros assistindo. Logo se percebeu o que podia acontecer: o coto caía em cima do camião, coberto com a respectiva lona. Ninguém fez contas, mandaram. O ramo foi mesmo cortado, a inútil corda a agarrar a base, que ninguém puxou. Pela lei da gravidade, o tronco veio a direito e furou a lona do camião, caindo lá dentro.
Objectivo cumprido e sem trabalho sequer de carregar o peso para cima do camião. O rasgão na lona? Ora, simples dano colateral, como diriam os americanos dos muitos civis mortos em todas as guerras que vão fazendo pelo mundo. Ainda por cima agora não é época de chuvas, pode andar o camião com a lona rasgada. E depois, a lona não é deles nem do fiscal que dirigia a operação, é do Estado, não pertence pois a ninguém, podemos estragar.
Por isso todos riram quando o tronco furou a lona. Mesmo o utente da serra, arriscando-se a deixar cair o pesado instrumento por não resistir às gargalhadas.
Típica cena luandense, dirão os mais conformados.
A propósito de podas, recordo uma cena que já contei. Nos primeiros anos da Independência, um comissário municipal foi fazer uma «pós-graduação» em gestão urbana na antiga Jugoslávia. Vindo para Angola, mandou podar as árvores em pleno tempo das chuvas. Avisaram-no os velhos jardineiros:
– Camarada comissário, só se devem podar árvores no cacimbo.
– Hábitos de colonos reaccionários. – retorquiu o reciclado gestor urbano – Estive na Jugoslávia, país que está mais avançado que nós no socialismo. Se estão a podar agora, é porque sabem.
Assim deram cabo da bela mulemba da minha meninice. Isto não se passou em Luanda e portanto não podemos deitar culpas a tudo o que sucede mal no país apenas aos kaluandas e seus administradores.
Sejamos optimistas na questão das podas. Como já verificámos, somos uns tremendos boelos nesses trabalhos. Porém, certamente não faltarão gestores urbanos a propor cursos de poda a uns tantos sobrinhos ou primos, nas capitais da Europa ou até, se os santinhos ajudarem, nos Estados Unidos. Aí é que se poda bem, com modernidade! Virá tecnologia de ponta, o que significa importação de material rolante, escadas móveis e serras leves de última geração. Boas comissões em perspectiva. E que se danem os velhos podadores, uns analfabetos imbuídos de espírito saudosista, trabalhando com catana e sabedoria da tradição!
Crónica publicada na edição de setembro da revista África 21
CULTURA
Atlas dos Anfíbios e Répteis de Angola (inglês)
Jornal Angolano de Artes e Letras
Portal do Uíge e da Cultura Kongo
Revista Angolana de Ciências Sociais
Revista Angolana de Sociologia
União dos Escritores Angolanos
DESPORTO
Federação Angolana de Atletismo
ENSINO SUPERIOR
Faculdade de Medicina (Lubango)
Instituto Superior Politécnico Tundavala
EVOCATIVAS
Instituto Comercial (Sá-da-Bandeira)
FOTOGRAFIA
Fotos de Angola no Skyscrapercity
Galeria de Diamantino Pereira Monteiro
Galeria de Tiago Campos de Carvalho
Sérgio Guerra- Banco de Imagens
GERAIS
HISTÓRIA
Angola Do Outro Lado Do Tempo...
Angola na Biblioteca Digital Mundial
Grupos Étnicos na Década de 30
INFORMAÇÃO
INSTITUIÇÕES
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