(cortesia do Autor)
(fotografia de J. C. Pinheira, in "Angola, Dever de Memória" - volume 4)
“Segundo os próprios Kuvale a repressão de 1941 não terá visado tanto a neutralização de um levantamento politicamente fundamentado, dotado dos seus líderes e de uma consciência colectiva orientada nesse sentido, quanto a manifestação da brutalidade de uma política colonial incapaz de controlar-se a si mesma face a populações tradicionalmente reconhecidas como indóceis, ladrões de gado, avessos ao pagamento do imposto e à prestação de serviço braçal. Uma tentativa, talvez, de "domesticação" de um grupo que insistia em manter-se à margem da ordem colonial numa altura em que importava já, à administração portuguesa, dar provas da sua "acção civilizadora". São-me referidas, de facto, figuras como Tyindukutu, por exemplo, que adquiriram projecção na época e cujo aniquilamento se justapõe à repressão em causa.”
“(…) os colonos foram embora, os terrenos ficaram, as vedações perderam o sentido e os Kuvale deixaram de sofrer qualquer entrave à afirmação do seu domínio sobre o meio e o seu próprio destino (…). E ficaram os bois, também, que os colonos deixaram.”
“Estarão assim os Kuvale a evoluir para uma condição de minoria nacional privada de representatividade e condenada à exclusão? Não o creio. A seu favor jogarão sempre pelo menos três factores: o gado, o território que ocupam e a capacidade que é a sua de extrair uma alta produtividade da conjugação destes dois elementos num meio difícil e de alto risco para quem esteja menos habilitado a geri-lo.”
Duarte de Carvalho, in “O FUTURO JÁ COMEÇOU? TRANSIÇÕES POLÍTICAS E AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA ENTRE OS PASTORES KUVALE (HERERO) DO SUDOESTE DE ANGOLA”, 1994
(fotografias de J. C. Pinheira, in "Angola, Dever de Memória" - volume 4)
"Na vida?
Queremos bois. Queremos que a chuva caia para eles sobreviverem.
Preocupo-me com o meu pai, que me deu bois para cuidar, e com a minha mãe, que me nasceu.
Dormimos e amanhece.
Tiramos o leite, levamos os bois do curral para o capim e vamos pastorear.
Damos de beber ao gado, voltamos ao sambo e consertamos as cercas.
Pomos os cabritos a mamar e tiramos o leite novamente, anoitece.
Quando volta a amanhecer, tudo se repete."
in http://redeangola.info/hereros/?fbclid=IwAR15yA69OYoBZizsheU4nTUUYW0VE10x1N-DERnYRxfbb-Oz9G-mrVBYVGc
(Recomendamos visitas ao site, que é belíssimo!)
(cortesia de Fernando Leite Velho)
"Os kwanyama de Angola eram, até aos anos 30-40 os melhores metalurgistas, sobretudo ferreiros, de Angola pela qualidade do aço produzido e pela variedade de produtos. Chegados ao território tardiamente pelo Sul, vindos do Botswana como todos os Ovambo, procuravam minério de ferro a Norte de Njiva o que vieram a concretizar na região da Mupa/Kassinga. Sendo agricultores de massango, massambala e do feijão de terra (feijão makunde) e de outros produtos a que acrescentavam o gado bovino e caprino e tendo de disputar os pontos de água com outros povos já estabelecidos, vinham dotados de uma tecnologia de fundição e modelagem de metais, necessários para a defesa, mas sobretudo, para os adornos das suas mulheres e deles próprios. A sua principal arma (tradicional) é a lança de ferro longo e de ponta larga e longa; o machado (janvite) com formas diferenciadas (para guerra, corte de madeira e de poder) e a enxada. Na fundição de objectos em ferro, os Kwanyama usam o minério extraído de minas, o que os distingue de outros povos bantu, que usam o crosta superficial de laterite (sais ferrosos que se acumulam e misturam com aterra superficial, abundante em toda Angola do planalto). Tal como todos os Bantu, o trabalho do ferro (e dos outros metais) é uma actividade entendida como processo alquímico, em que é necessário realizar e cumprir rigorosamente as actividades propiciatórias e convocar para elas toda a energia dos espíritos, para que o minério adquira a capacidade de se alterar, com a ajuda milagrosa do fogo e que a fornalha faça dar vida, como se fosse um acto de gestação humana. A fornalha é o útero e os foles, os órgãos sexuais masculinos em que o ar que alimenta o fogo, é o sémen necessário à transformação da pedra em algo novo e ajude o homem nas suas actividades através dos instrumentos e armas. Assim. o lugar onde se processa tudo, é um lugar sagrado e reservado a todos os que estiverem puros. Daí que todos os intervenientes tenham de ser ungidos, ou purificados, com líquidos especialmente elaborados para o efeito pelas mulheres. O trabalho é executado pelo mestre fundidor que é também um sacerdote e é ele que escolhe o minério, as quantidades de carvão, cuja produção antecede o acto de fundir, umas semanas antes. A actividade é própria para uma determinada altura do ano, o cacimbo. Logo que o capim esteja todo seco, as famílias dos ferreiros percorrem largos quilómetros dos seus eumbos e das suas lavras, para as minas da Mupa e aí instalam-se construindo a sua habitação e as fornalhas, levando consigo os foles, os malhos, demais instrumentos de corte e de manipulação da ganga e uma parte do seu gado. Depois de obter o minério e do carvão, o primeiro é triturado para facilitar a fundição bem como o carvão. Na fundição, não usam o cadinho, pois a fornalha que é escavada no solo com 40 a 50 cm de profundidade e de diâmetro, leva a um canal onde depois escorre a massa fundida, noutro ponto oposto, é adicionada um algaraviz feito de argila refratária, onde na parte contrária à fornalha entra a "boca" do fole. Este é feito de madeira, no qual, as caixas de ar (duas) são furadas juntando-se num ponto só, como se pode ver na gravura para encaixar no algaraviz. O ar é sugado e soprado com a ajuda de peles de "(?) "com uma válvula do mesmo material onde são amarrados de cada caixa varetas de madeira. O processo de obtenção do lingote leva cerca de 10 a 12 horas e o trabalho é continuo revessando-se o manipulador do fole entre pessoas adultas, ou crianças, previamente descontaminadas e imbuídas de sinais que ajudam a acrescentar qualidade de bom resultado e que respeitem o tabu de abstinência sexual durante todo o processo (segundo alguns autores). A temperatura da fornalha anda pelos 1000 a 1200 graus Celsius pelo que o movimento dos foles tem de ser contínuo. De tempos a tempos o mestre vai acrescentando carvão e escórias de outras fundições. Durante todo o dia os intervenientes limitam-se a beber cerveja de massango, comendo no final do dia o tradicional pirão de fuba de massambala carne seca com ou sem lombi. Para se obter objectos finais, é necessário voltar à forja onde o mestre vai malhando e moldando o pedaço de ferro, quando este está maleável, com o fogo e finaliza com várias temperas usando a água de uma sanga ou panela.
(#) O desenho foi realizado por mim à pena obtido a partir de uma fotografia tirada pelo Padre Carlos Estermann em 1936.
(##) Referências para além da obra C. Estermann "Les forgeron kwanyama" Bol. Soc. Neuchateloise de Geographie, nº 44. Isildo Martins "Cuanhama: Estrat. Internas e Prelúdio da Perda da sua Soberania" tese de Mestrado em História e notas obtidas por nós em entrevista ao primeiro dos autores em 1974."
(texto de Jorge Sá Pinto, publicado na "Conversa à sombra da mulemba" - Facebook)
1. Numa pesquisa bibliográfica, encontrámos o relato (1) (2) (3) de um missionário católico, Padre Keiling, a uma região de Angola então envolvida no conflito fronteiriço entre Portugal e Alemanha, na época da Primeira República portuguesa - a então chamada região do Cuanhama.
Iniciada a sua publicação em 1926, no Boletim Geral das Colónias, o texto de Keiling conta dramáticas peripécias e episódios sangrentos, relacionados com a ocupação colonial do território dos Cuanhamas e a resistência oposta pelos naturais, sob as ordens do Rei Mandume. Os missionários católicos disputavam influência aos congéneres protestantes, ambos se apoiando nas respectivas forças militares em movimento na área. Segundo Keiling, Mandume, fortemente armado com carabinas militares Kropotchek, ter-lhe-á declarado que "Se o governo português quiser vir ocupar a minha terra, resistirei, enquanto tiver um cartucho e soldado capaz de atirar, e, se for vencido, suicidar-me-ei". Inicialmente "germanófilo", o Rei cuanhama veio a tornar-se pragmático nas suas alianças, procurando por vezes apoio dos britânicos, ao sabor da circunstância das disputas territoriais que se verificaram durante a Primeira Grande Guerra.
Descrevendo-os como "altos, bem formados e desembaraçados", saudando habitualmente os visitantes com um "guten tag" aprendido nas missões protestantes alemãs, a impressão que Keiling deixou nesse relato, no que respeita ao conhecimento desse aguerrido povo, foi no entanto superficial, esquemática e de nítido cariz preconceituoso, não denotando interesse de compreensão cultural.
2. Uma vez pacificada a região, entre os estudos etnográficos nela realizados é incontornável referir o de Estermann, na sua obra "Etnografia do Sudoeste de Angola (Vol. I) – Os Povos Não-Bantos e o Grupo Étnico dos Ambós" (Junta de Investigações do Ultramar, 1960).
3. A cultura dos cuanhamas continua até aos dias de hoje a suscitar interesse. No blogue 'Torre da História Ibérica' encontramos alguns resumos das suas características (4) (5) (6).
4. Aspectos filosóficos da sua antroponímia foram recentemente abordados num Jornal de Artes e Letras (7).
5. Aspectos teológicos dos seus ritos foram alvo de Tese de Doutoramento (8).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N018&p=19
(2) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N019&p=139
(3) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N020&p=58
(4) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2009/03/os-cuanhamas-do-sul-de-angola-1.html
(5) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2009/04/cuanhamas-do-sul-de-angola-2-os-comecos.html
(6) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2010/08/cuanhamas-do-sul-de-angola-3-um-pouco.html
(7) http://jornalcultura.sapo.ao/patrimonio-cultural/antroponimia-kwanyama-uma-perspectiva-filosofica
(agradeço a gentileza do Autor, Abílio Victor, permitindo a reprodução neste blogue)
(Foto da Lencastre Fiúza)
ouça aqui a reportagem: https://www.mixcloud.com/rodolfoascenso/mukuisses/
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