Uma apaixonante e esplendorosa terra, um magnífico povo! Será brilhante seu futuro, construído por todos os que têm Angola no coração, que nela ou na diáspora trabalham e com amor criam suas famílias.
Domingo, 13 de Dezembro de 2020
Cuanhama - alguma bibliografia

1. Numa pesquisa bibliográfica, encontrámos o relato (1) (2) (3) de um missionário católico, Padre Keiling, a uma região de Angola então envolvida no conflito fronteiriço entre Portugal e Alemanha, na época da Primeira República portuguesa - a então chamada região do Cuanhama.

Cuanhama_1.PNGIniciada a sua publicação em 1926, no Boletim Geral das Colónias, o texto de Keiling conta dramáticas peripécias e episódios sangrentos, relacionados com a ocupação colonial do território dos Cuanhamas e a resistência oposta pelos naturais, sob as ordens do Rei Mandume. Os missionários católicos disputavam influência aos congéneres protestantes, ambos se apoiando nas respectivas forças militares em movimento na área. Segundo Keiling, Mandume, fortemente armado com carabinas militares Kropotchek, ter-lhe-á declarado que "Se o governo português quiser vir ocupar a minha terra, resistirei, enquanto tiver um cartucho e soldado capaz de atirar, e, se for vencido, suicidar-me-ei". Inicialmente "germanófilo", o Rei cuanhama veio a tornar-se pragmático nas suas alianças, procurando por vezes apoio dos britânicos, ao sabor da circunstância das disputas territoriais que se verificaram durante a Primeira Grande Guerra.

Descrevendo-os como "altos, bem formados e desembaraçados", saudando habitualmente os visitantes com um "guten tag" aprendido nas missões protestantes alemãs, a impressão que Keiling deixou nesse relato, no que respeita ao conhecimento desse aguerrido povo, foi no entanto superficial, esquemática e de nítido cariz preconceituoso, não denotando interesse de compreensão cultural.

Cuanhama_2.PNG

2. Uma vez pacificada a região, entre os estudos etnográficos nela realizados é incontornável referir o de Estermann, na sua obra  "Etnografia do Sudoeste de Angola (Vol. I) – Os Povos Não-Bantos e o Grupo Étnico dos Ambós" (Junta de Investigações do Ultramar, 1960).

3. A cultura dos cuanhamas continua até aos dias de hoje a suscitar interesse. No blogue 'Torre da História Ibérica' encontramos alguns resumos das suas características (4) (5) (6).

4. Aspectos filosóficos da sua antroponímia foram recentemente abordados num Jornal de Artes e Letras (7).

5. Aspectos teológicos dos seus ritos foram alvo de Tese de Doutoramento (8).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

(1) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N018&p=19

(2) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N019&p=139

(3) http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N020&p=58

(4) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2009/03/os-cuanhamas-do-sul-de-angola-1.html

(5) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2009/04/cuanhamas-do-sul-de-angola-2-os-comecos.html

(6) https://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2010/08/cuanhamas-do-sul-de-angola-3-um-pouco.html

(7) http://jornalcultura.sapo.ao/patrimonio-cultural/antroponimia-kwanyama-uma-perspectiva-filosofica

(8) https://bimbe.blogs.sapo.pt/399912.html


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publicado por zé kahango às 16:02
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3 comentários:
De zé kahango a 13 de Dezembro de 2020 às 22:38
Sobre o Povo Kwanyama
O povo Kwanyama ocupa em Angola, uma porção da Província do Cunene numa área irregular entre o rio Cunene e o rio Kuvango. São agricultores de grãos ( Massambala e Massango), de cucurbitáceas ( abóboras e cabaças), ferreiros e criadores de gado. No passado, há pouco mais de 100 anos completavam o rendimento comunitário, com as incursões de guerra” que mais do que torná-los ricos, eram uma actividade sazonal que visava fazer adquirir aos indivíduos que nelas participavam, aquisição de estatuto dentro da sociedade particularmente os jovens, mantendo também a ideia de aquisição de qualidades de organização, disciplina, coragem entre os homens. A nação ovambo, a qual pertenciam, de língua oshiwambo, era organizada em clãs simbolizados por animais ou plantas e hierarquizada, tendo os indivíduos estatutos diferentes conforme os rituais de passagem e aquisição por via do ohamba (estatuto próximo do conceito de “rei”). Politicamente organizados em Estado ( iniciado pelo rei Xavongela, segundo Estermann, algures no século XVII-XVIII) com poderes cooperantes sendo o poder executivo fortemente personalizado na figura do ohamba, que delega os seus poderes fora do seu eumbo mas sem poderes ilimitados (Estermann) assistido por um conjunto de ministros e um conselho de notáveis dos diferentes clãs, o n´gundafana. Todo o território está dividido em vomicunda ou seja, comunas, tendo elas um chefe, o ovene vomincunda.
Concentrando-nos sobre a atividade mais nobre e que sustenta a sua identificação como “povo guerreiro” os kwanyama são considerados pelas outras comunidades, como especialistas na arte de trabalhar os metais e na cerâmica, havendo até aos anos 30 do século passado exportação de ferramentas de trabalho e armas para outros povos do sudoeste e sul de Angola, que incluem os povos !Kung (khoisan) perdendo-se com o tempo a importância destas artes, por sucessiva aquisição de equipamentos da globalização no início do século XX.
“há magníficos serralheiros que fazem as célebres facas chamadas cuanhamas, machadinhas, que são espetadas nos extremos dos porrinhos [mocas semelhantes às de Rio Maior], pulseiras, argolas, enxadas e consertam armas, transformando as de pederneira em pistão; disseram-nos até que um serralheiro transformara uma espingarda de carregar pela bôca em carregamento pela culatra, ainda que toscamente” (João de Almeida, 1908). Este estado de desenvolvimento, perder-se-ía rapidamente nas décadas seguintes.
Por esta razão, as descrições dos antropólogos dos anos 30 e anteriores, são uma fonte inultrapassável sobre esta actividade, entre eles, o padre Carlos Estermann, António de Almeida, Ernesto Lecomte e Luís Keyling, para o caso os Kwanyama em Angola que observaram o trabalho dos ferreiros antes de se extinguir o seu trabalho em contexto cultural identitário.
(Jorge Sá Pinto. Palmela 13/12/2020)


De zé kahango a 13 de Dezembro de 2020 às 23:01
Agradeço ao Jorge Sá Pinto a autorização para reproduzir aqui este esclarecedor texto sobre o povo Kwanyama.


De zé kahango a 14 de Dezembro de 2020 às 12:41


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