(Fotos do Calito Freire)
Ao verem referências históricas que aqui vamos fazendo, na mente de alguns podem surgir dúvidas de um certo tipo. Importa pois esclarecer que este blogue não é um repositório de saudosismos, muito menos lugar para expressão de ressentimentos. O nosso posicionamento acerca da realidade e atualidade de Angola quer traduzir confiança. Quem disso duvide, basta clicar no marcador “o futuro é já hoje” para constatar quanto de positivo aqui desde sempre partilhamos. Por outro lado, a construção de um País nunca dispensa as memórias do passado. Sejam boas ou não. A lembrança de alegrias e tristezas, vividas por muitas gerações de angolanos, fazem parte do presente. A cultura de um povo parte essencialmente de experiências pessoais, mas também tem de integrar o conhecimento de factos históricos, muitos dos quais até os contemporâneos desconheciam. Temos aqui modestamente procurado contribuir para fazer alguma luz sobre temas que foram ficando na penumbra. Confiamos e de boa fé esperamos.
(fotos de artigos do Professor
José Carlos de Oliveira, na Revista Militar)
(foto de Veloso e Castro, 1905)
Há muito que nos impressiona a saga dos missionários, tantos dos quais malogrados, que dedicaram suas vidas na propagação da fé cristã por remotas paragens de Angola. A sua nobre generosidade e o desprendimento material com que se deslocaram para contacto próximo com os habitantes naturais foram postos muitas vezes a serviço de estratégias geopolíticas e respectivos interesses económicos. As suas vidas de privação e trabalho árduo deixaram-nos obras indeléveis, heranças culturais a que a História, na nossa opinião, ainda não terá feito a justiça do devido reconhecimento. Os seus esforços para realizar estudos etnológicos, linguísticos e da psicologia social dos povos alvo da sua missão evangelizadora faziam, é certo, parte imprescindível de uma estratégia de catequização. Mas alvitramos que o seu papel enquanto agentes de interação de culturas e civilizações ainda se encontra na bruma. Supomos que algures, em obscuras prateleiras de arquivos e bibliotecas de congregações religiosas, os testemunhos de suor e sangue de missionários repousem sob o pó dos tempos...
Mapa retirado da obra "A Colonização Do Sudoeste Angolano", Tese de Doutoramento de José Manuel Azevedo, 2014
É bem sabido que as confissões religiosas desempenharam importante papel na história do ensino em Angola, exercido pelas missões católicas e protestantes. Facto menos conhecido foi a criação de missões laicas, no contexto político da I República, que tiveram reduzida aderência e existência fugaz - em Angola estiveram "no terreno" apenas meia dúzia de anos. Designadas de "civilizadoras", referimo-nos a elas como uma curiosidade histórica. O decreto que as instituiu, datado de 22 de novembro de 1913, determinava que cada missão deveria ser constituida por um professor e três auxiliares. Estes, seriam de preferência praticantes de profissões como pedreiro, carpinteiro, serralheiro ou agricultor. Quanto aos professores, eram previamente habilitados num curso que incluia Geografia, Física, Química, princípios de Direito, Botânica, Zoologia, Mineralogia, Geologia, Higiene, Agricultura, noções de Saúde e sanidade tropical, Administração, Zootecnia e noções de Medicina Veterinária. Em 10 de maio de 1919, foram estabelecidas seis missões para Angola, para onde as duas primeiras partiram apenas a 7 de abril de 1920. Destacamos a que se fixou na Omupanda, em instalações que alemães tinham fundado em 1911 (vide https://bimbe.blogs.sapo.pt/missao-de-omupanda-cuanhama-483582 ). Essa missão, designada "Cândido dos Reis", tinha sucursais no Hoque e na Humpata, onde instalou a escola-oficina "Óscar Torres". No entanto, note-se que ao contrário das religiosas, este tipo de missões não tinha especiais capacidades pedagógicas para atrair os "indígenas", verificando-se na prática ser incapaz de disputar às americanas e inglesas alguma influência populacional, pelo que a sua expansão territorial foi modesta. Não obstante terem sido criadas como uma iniciativa de caráter inovador, terão sido porventura uma aventura frustrante para os seus protagonistas. As missões laicas foram sendo instaladas esparsamente, tentando atingir zonas mais interiores da então colónia, como no Moxico e em Menongue (em 1923 e em 1925, respectivamente) até serem declaradas extintas, em 1926. (Quem se interessar pelo assunto, consulte o Centro de Estudos da Universidade Católica, aqui) O novo regime desde então vigente na "metrópole" viria a aproveitar os ex-funcionários das missões laicas, para exercerem nas escolas rurais. Estas, destinavam-se a ministrar um ensino básico (leitura, escrita e contagem), que se complementava com a aprendizagem de atividades de cunho prático. Em 1928 foram atribuidas a Angola vinte dessas escolas, mas em 1937 o modelo no qual tinham sido concebidas também foi abandonado. Em matéria de opções por modelos educativos, em ambos casos foram exemplo de desistências um tanto precoces, nomeadamente antes que as experiências tivessem tido desenvolvimento e tempo para produzir resultados avaliáveis, frustrando as expectativas dos agentes que nelas se envolveram. A história fica, para nossa lição...
Acabada a missa, ouvimos uma grande algazarra que vinha do adro da igreja da Humpata, onde ocorria uma brincadeira de um grupo de jovens saídos da catequese, que dançavam e cantavam, em ambiente de grande alegria, ao som de palmas ritmadas e batuque: "- ... pega-a no cóó-lô, ê-êh, ê-êh; dá-lhe um beijii-nhô, ê-êh, ê-êh!..."
Vivemos esse momento de entusiasmo, singeleza e pureza encantadores, com grande emoção das nossas almas, sentindo que eram as nossas crianças de sempre, brincando no nosso quintal...
No final de um dos encontros preparatórios para o nosso casamento na Igreja da Humpata, o Padre Calenga disse-nos que estava com pressa, pois tinha de ir a uma cerimónia do "fico" que se iria realizar numa das localidades das redondezas paroquiais. Percebemos que a Igreja Católica tinha adotado as tradições rituais da cultura nhaneca-humbe, adaptando-as e integrando-as na liturgia cristã, numa estratégia de grande sabedoria, porventura explicativa do sucesso da catequização por aquelas bandas.
Há uma necessidade sentida como premente, quando ficamos a sós com o sentido das nossas vidas. É a necessidade de compreender o que moveu nossos avós, pelos tempos fora passados em terras difíceis, derramando suores e sangue. O que fizeram e como o fizeram deixou marcas na terra, e também esteios para seguirmos nossos caminhos. Por tais razões não estranhem, os nossos leitores visitantes, que por uma e outras vezes venhamos aqui falar do que nos ocorre quando olhamos para trás. Não porque pensemos desejável qualquer retrocesso, de todo impossível. Mas para perceber como definiremos novos sentidos a dar às antigas jornadas, de labuta estrénua, dos nossos antepassados. Ou não tívessemos todos nós a alma presa ao berço, de onde partimos em Humanidade, Culturas e Civilizações.
CULTURA
Atlas dos Anfíbios e Répteis de Angola (inglês)
Jornal Angolano de Artes e Letras
Portal do Uíge e da Cultura Kongo
Revista Angolana de Ciências Sociais
Revista Angolana de Sociologia
União dos Escritores Angolanos
DESPORTO
Federação Angolana de Atletismo
ENSINO SUPERIOR
Faculdade de Medicina (Lubango)
Instituto Superior Politécnico Tundavala
EVOCATIVAS
Instituto Comercial (Sá-da-Bandeira)
FOTOGRAFIA
Fotos de Angola no Skyscrapercity
Galeria de Diamantino Pereira Monteiro
Galeria de Tiago Campos de Carvalho
Sérgio Guerra- Banco de Imagens
GERAIS
HISTÓRIA
Angola Do Outro Lado Do Tempo...
Angola na Biblioteca Digital Mundial
Grupos Étnicos na Década de 30
INFORMAÇÃO
INSTITUIÇÕES
Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente
Associação dos Empreendedores de Angola
Câmara de Comércio Angola-Brasil
Câmara de Comércio e Indústria
Delegação da União Europeia em Angola (Facebook)
JORNALISMO
MISCELÂNEA
SAÚDE
Biblioteca Virtual em Saúde - Angola
TURISMO