Não sei dançar, de todo, ponto final, parágrafo, travessão.
Há uns anos, nos tempos da minha juventude, na Europa, quando me perguntavam nas festas porque não dançava e eu respondia que tinha vindo com defeito de fabrico, dois pés esquerdos e por aí fora, aquelas desculpas meio humorísticas que usamos para disfarçar a coisa, as pessoas achavam estranho e diziam-me que eu nem parecia Africano, uma vez que os Africanos na opinião deles dançam até mesmo sem música (tenho visto mocinhas a abanarem-se tão efusivamente nos passeios de Luanda que ás vezes até gostava de lhes conhecer a música interior que as tanto faz vibrar).
Mas sou mesmo Africano, pelo menos nasci no Continente mas isto também é conversa para outra lavra e o facto de não saber nem conseguir aprender a dançar decentemente com alguém, durante anos mexeu comigo ao ponto de me inscrever numa escola de danças de salão de onde acabei por ser expulso por dar cabo dos pés da pobre professora, a D. Henriqueta, que sempre que tentava comigo dançar Tcha-Tcha-Tcha, certo e sabido que falhava as aulas do resto da semana por ficar com os pés feitos em verdadeiros trambolhos. De tanto mexer dei comigo a pensar em arranjar soluções para esta minha falta de jeito para os passos, para a dança, até porque tudo na vida exige esforço e trabalho.
Comecei por arranjar uns tangos do Astor Piazola de quem sou admirador convicto, uma vassoura e no sossego lá de casa, depois de ver centenas de videos de bailarinos de tango, comecei a dar umas passadas. A coisa até que nem saía assim tão mal e mais confiante nas minhas capacidades de riscador de pistas, decidido, enfrentei um baile dos bombeiros ali para os lados de Odivelas onde me disseram que o conjunto Manitas mais Cinco, abrilhantava todas as sextas, uma soirée dançante muito concorrida por sopeiras e meninas mais ou menos encalhadas. Posto lá as coisas mudaram de figura ao ponto de me ter deixado marcas que ainda hoje transporto comigo (duas cicatrizes e um pivot, tal foi a violência dos acontecimentos).
Aberta a pista, quis que me tocasse na rifa a menina Josélia, uma Africana de grande porte, uns bons 20 a 30cms de altura e muitos kilos a mais que eu, que gentilmente acedeu ao meu convite, "a menina dança", e lá fomos nós por ali a deslizar pista fora. Os primeiros passos saíram quase perfeitos, não fosse o problema técnico da altura dela que me obrigava a ter as narinas práticamente enfiadas no portentoso e cómodo decote de onde saía um volumoso peito que a cada passada arfava e me dificultava a respiração. A partir de um certo momento a menina Josélia, fruto do arcaboiço avantajado e se calhar por também ser bem Africana passou ela mesmo, entusiasmada com a música a levar-me em voltas e mais voltas até quase perder o tino.
O tino e um dente perdi-o quando o Miko, um pedreiro cabo-verdiano gigantesco que andava de olho na Josélia se dispôs a pôr fim ao bailarico e armar zaragata por não ter achado piada nenhuma ás minhas dificuldades técnicas. Lembro-me de ter dado várias voltas ao recinto em ombros e depois de ter feito um voo picado escada abaixo aterrando de seguida mesmo à entrada do salão de festas com as beiças em péssimo estado, ter jurado a mim mesmo que se para dançar era necessário tanto sacrifício e tanta dor, mais valia ficar só mesmo com os meus dois pés esquerdos, aqueles que os meus pais me deram quando me pariram.
É que não se pode ter tudo...
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