Novo Porto pesqueiro nasce na Baía dos Tigres
A Baía dos Tigres, uma das regiões mais ricas em pescado da costa angolana,vai albergar, em breve, o maior porto pesqueiro do país, anunciou, recentemente, no Namibe, o ministro das Pescas, Salomão Xirimbimbi.
O programa de Desenvolvimento da Baía dos Tigres,uma localidade situada 100 milhas a sul da cidade do Namibe, começa a ganhar corpo a partir de 2009, segundo o governante angolano.
Salomão Xirimbimbi fez tal pronunciamento quando se deslocou ao Namibe, onde procedeu à entrega de 50 novas embarcações a 32 associações de pesca artesanal, no âmbito do Programa de Combate à Fome e Desemprego, promovido pelo Governo.
De acordo com o governante, que é economista de formação, trata-se de um programa “muito ambicioso e importantíssimo” que vai gerar muitos postos de trabalho e, também, receitas para os cofres do Estado.
Salomão Xirimbimbi apontou, entre outros objectivos, a importância da cultura do mexilhão, estimando-se que a produção venha a ser de um milhão de toneladas/ano, daí a necessidade de se construir um porto pesqueiro de referência que possa estar à altura de movimentar esse volume de produção.
O titular da pasta das Pescas acentuou que os estudos e projectos de iniciativa privada, com o apoio do Governo, que ali criou algumas infra-estruturas vitais, já tiveram o seu início.
Salomão Xirimbimbi chegou a anunciar a chegada, brevemente, ao Namibe, de duas empresas estrangeiras, cujas origens não mencionou, sendo que uma vai tratar da energia eólica, enquanto outra ocupar-se-á do plano-director indispensável ao desenvolvimento da região.
A vida na Ilha dos Tigres
Em 1975, com a independência de Angola, alguns empresários portugueses que habitavam a Baía zarparam para Portugal, enquanto outros escolheram como destino outros pontos do país à espera do evoluir da situação resultante da turbulência política vivida na época.
Para trás ficavam equipamentos fabris e pontes para descarga do pescado que depois passaram a ser utilizadas, durante os últimos anos, por armadores nacionais e estrangeiros, detentores de navios-fábrica e arrastões, que pescavam fora do controlo do Estado.
Devido ao conflito armado, de cerca de três décadas, a ilha ficou entregue à sua sorte, ou seja, esteve pura e simplesmente abandonada.
Hoje, a actividade na Baía dos Tigres só se resume à pesca. Na falta de uma eficiente fiscalização das nossas águas territoriais, destinada ao combate às capturas ilegais, barcos piratas de diversas partes do mundo haviam transformado a Baía dos Tigres num autêntico “El Dorado”.
Por força da intervenção, nos últimos tempos, da Fiscalização do Ministério das Pescas e da Marinha de Guerra Angolana, a actividade desses barcos piratas de grande porte, dotados de sistema de captura, transformação e processamento do pescado, diminuiu.
A acção criminosa protagonizada por embarcações piratas, na sua maioria estrangeira, tem deixado marcas profundas nos dias que correm.
Como se disse, a Baía dos Tigres foi completamente abandonada há mais de vinte anos.Era, por exemplo,local que albergava muitos ex-reclusos, depois de estes cumprirem penas de prisão no antigo centro prisional de São Nicolau, actualmente conhecido por Penitenciária do Bentiaba.
Mas, ainda assim, houve quem optasse por ficar, mesmo sabendo de todo o mar de dificuldades agravadas com a ruptura da tubagem submersa que então ligava a ilha ao continente, transportando água desde a foz do Rio Cunene. O precioso líquido ficava acondicionado em dois depósitos subterrâneos.
Quando a reserva de água acabou, a Baía ficou completamente despovoada, porque “agua é vida”, sublinha Joaquim Aguiar, 57 anos de idade e antigo habitante da Baía dos Tigres.
Joaquim Aguiar permaneceu dez anos na Baía dos Tigres, para onde foi depois de ter cumprido uma pena de prisão no antigo centro prisional de São Nicolau.
Dados de 1973 apontavam para a existência, na Baía dos Tigres, de 400 casas habitadas por 1.068 pessoas, que se dedicavam à pesca.
É com base nessa realidade que, a partir de 1999, o Governo da Província do Namibe iniciou um estudo minucioso da Baía dos Tigres, com vista a sua recuperação, no quadro do seu programa de desenvolvimento sócio-económico, já em execução.
Os dados numéricos que serviram de suporte a esta reportagem foram divulgados pelo governo da província.
No sector das pescas, principal actividade económica da Baía dos Tigres, para além do turismo, é necessária a recuperação e reabilitação de todo o parque industrial, constituída por 14 fábricas de processamento de pescado, das quais sete de farinha e óleo de peixe.
Fiscalização no alto mar
O titular da pasta das Pescas, quando se deslocou ao Namibe, anunciou a aquisição, para breve, de dez embarcações para a fiscalização no alto mar.
Ainda no âmbito das acções do Ministério das Pescas para os próximos tempos, foi, igualmente, anunciada a execução de um programa que visa a aquisição de mais embarcações, em número de 21, para a pesca semi-industrial, como para a industrial, prevendo-se que sejam adquiridas 12.
As doze embarcações serão destinadas às empresas ligadas à captura e transformação de pescado, com maior incidência do município do Tômbwa, o maior centro pesqueiro de Angola.
De acordo com o titular da pasta das Pescas, com a chegada destes meios estará comprovada que o seu ministério não pactua com quaisquer irregularidades ou arbitrariedades de alguns pescadores ou armadores e que o seu pelouro não protege ninguém.
“ Não seremos nós a exercer essa fiscalização, pois vamos entregar cinco barcos, que deverão chegar já, à Polícia Fiscal a fim de se fazer o controlo dos rios Zaire, Kwanza, e Cunene. Depois chegarão mais outras dez grandes embarcações que ficarão meses e meses no mar”.
Historial da Baía dos Tigres
A Baía dos Tigres, que, nos mapas ingleses, figura sob a denominação de “Great Fish Bay” (Grande Baía dos Peixes), era reentrância costeira de consideráveis dimensões.
Tida como a maior de todas as baías da costa namibense, era constituída por um enorme “saco”, com a entrada voltada para o Norte, separada do mar por uma península arenosa de 26 quilómetros de comprimento. Está situada, aproximadamente, a 100 milhas a sul do Namibe.
Reza a história que foi descoberta, tal como o Tômbwa, por Diogo Cão, em 1485, na sua terceira viagem ao longo da costa africana, por determinação do Rei D. Joao II.
O nome Baía dos Tigres, segundo crença popular, deriva do hipotético facto de o vento, proveniente a sul da Baía, causar um enorme ruído. Daí que deste facto, mal interpretado, veio a crença da existência de tigres na Baía.
Já o livro de Pereira do Nascimento, intitulado “ Exploração Geográfica e Mineralógica no Distrito de Moçamedes”, em 1894/1895, associa o nome à abundância, tanto de peixe e de focas, tidas como “Tigres da Baía”.
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