Uma apaixonante e esplendorosa terra, um magnífico povo! Será brilhante seu futuro, construído por todos os que têm Angola no coração, que nela ou na diáspora trabalham e com amor criam suas famílias.
Jornalista em Angola a partir dos anos 50
LEONOR FIGUEIREDO
Ruy Correia de Freitas. Jornalista, foi o último director de 'a província de Angola' e o primeiro do 'Jornal de Angola'. Explica como o jornal já usava computadores nos anos 60 e a distribuição chegava a todo o extenso território
Recordações da imprensa na 2.ª metade do séc. XX
O primeiro grande desafio na carreira do jornalista Ruy Correia de Freitas aconteceu, acidentalmente, em África, nos anos 50. Hoje, com 86 anos, recorda ao DN episódios que retratam facetas da imprensa daquela época em Angola. Quando assume a liderança de a província de Angola, em 1949, diário de que foi o último director, não adivinharia que viria a ser, também, o primeiro director do Jornal de Angola, que ainda se publica.
A família do pai afectivo, António Correia de Freitas, detinha, através da Empresa Gráfica de Angola, metade do capital do jornal, fundado em 1923. Mas os seus protestos perante a política ultramarina empurraram o jornalista, mais cedo do que pensava, para a direcção do diário, que vendia 12 mil exemplares, rivalizando então com o Diário de Luanda.
"Sem líder no jornal, a empresa ofereceu-me um curso em Inglaterra para poder tomar conta daquilo. Estive dois anos e meio a estudar em Londres, no Tecnical College of Grafic Arts and Journalism. Os cursos englobavam desde equipamento, produtos químicos, maquetagem, jornalismo. Tornei-me bom aluno, recebi distinções. Quando completei o curso, aos 24 anos, voltei a Luanda onde comecei a orientar as coisas."
Ruy Correia de Freitas vinha com uma perspectiva europeia da imprensa. E trabalhou nesse sentido. "Em finais dos anos 60 a província de Angola era feita numa web-offset, imprimia 2500 jornais de cada vez, aquilo funcionava com computador. Nesse sentido éramos mais modernos do que em Portugal. Havia umas Remington enormes, máquinas de escrever computadorizadas onde fazíamos a escrita administrativa. Mais tarde o jornal passou a ser feito fotograficamente. Para rentabilizar a publicidade, inventei os anúncios de três linhas que davam uma margem muito grande. Fiz a montagem e a paginação das 20 páginas, com os conhecimentos do curso em Londres."
Um dos objectivos era estender a influência do diário no território. Conseguiu-o em três anos, beneficiando do facto de ser director do Aero Clube de Angola e piloto voluntário. "Abri delegações em Benguela, Moçâmedes, Nova Lisboa, Huambo, e por aí fora, 15 no total. Comprá- vamos vivendas onde viviam os jornalistas. Mandavam diariamente notícias por telefone. Na redacção de Luanda havia uns sete jornalistas, dos quais três mulheres [uma era a nossa ex-colega de redacção a jor- nalista Maria Augusta Silva]".
Apesar da enorme extensão da que é hoje a República Popular de Angola, Ruy Correia de Freitas garante que a distribuição do jornal não colocava problemas. "Todos os dias, a Direcção dos Transportes Aéreos (DTA) levava os jornais. Estavam no seu sítio de manhã cedo."
Em Luanda, o director instituiu os ardinas no início dos anos 70. "Havia uns rapazinhos a pedir esmola na rua. Escolhi 22 deles, arranjei-lhes uma casa com camas, comida e médico. Recebiam uma percentagem por cada jornal vendido". a província de Angola dava lucro. Segundo os últimos números que dispôs como director, antes do episódio da sua fuga, em 1975, o diário escoava 45 mil exemplares. O dia 30 de Junho de 1975 publica o último número de a província de Angola e em Julho inicia o Jornal de Angola de que foi o primeiro director.
(Diário de Notícias)